Camisa Vermelha da Seleção – Tradicional é pensar diferente: o vermelho também é Brasil!

 Camisa Vermelha da Seleção – Tradicional é pensar diferente: o vermelho também é Brasil!

por Humberto Brassioli Corsi

 

A camisa vermelha da Seleção: tradição reinventada ou ruptura necessária?

A comoção nacional em torno de uma possível nova camisa vermelha da Seleção Brasileira tem provocado mais debates acalorados do que muitos lances de VAR em final de campeonato.

A simples ideia de ver a Canarinho vestida de vermelho mexe com paixões, dogmas e até mesmo identidades — e é exatamente por isso que ela merece ser discutida com mais profundidade do que memes rasos e manchetes caça-cliques permitem.

 

Antes de mais nada, vamos aos fatos: a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ainda não oficializou a tal camisa vermelha como uniforme da Seleção.

Até agora, o que temos são rumores, vazamentos e protótipos que acendem o debate, mas não concretizam uma decisão definitiva. Ou seja, estamos em terreno fértil para reflexões — e aqui, no O TABLOIDE VGP, cultivamos ideias e não apenas reproduzimos manchetes.

 

Agora, vamos ao que interessa: por que tanto alarde por uma cor? Simples.

Porque o futebol, no Brasil, nunca foi só futebol. A camisa da Seleção é um símbolo que transcende o esporte. Ela é política, identidade nacional, resistência e, por que não, tradição.

 

“E aqui faço minha declaração sem meias palavras: sou a favor da camisa vermelha. E não por modismo, nem por adesão superficial à “novidade”, mas por algo mais profundo: ela resgata uma das versões originais do futebol brasileiro, quando ainda buscávamos nossa estética, nossa alma, nosso corpo tático em campo e fora dele. Questão de Tradição e História, mais além.”

 

É preciso compreender História para não ter um ataque histérico com a Realidade.

 

Antes da consagração do amarelo pós-1950, o Brasil jogava de branco, e já usou tons mais escuros, incluindo variações de vermelho, como no caso da equipe da Seleção Paulista e até em amistosos não oficiais.

 

Tradição não é repetição cega. É diálogo com o passado. É reinterpretar símbolos com inteligência e consciência.

O vermelho, neste caso, pode ser visto como um retorno à raiz, uma retomada da pluralidade de identidade que o futebol brasileiro sempre teve e que, por conveniência ou convenção, foi sendo moldada a um padrão único e, por vezes, engessado.

 

E por falar em raiz, aqui vai uma provocação que a maioria dos críticos ignora: o próprio nome “Brasil” vem de “brasa”, do vermelho intenso da árvore Pau-Brasil, cuja seiva avermelhada encantava — e também inflamava — os olhos gananciosos da coroa portuguesa.

Uma árvore tingida de história, sangue e contradições, que originou o nome do país. Sim, vermelha. Sim, polêmica. Sim, símbolo de uma grande invasão mascarada de descoberta.

 

É também por isso que, em outras línguas (idiomas), escrevem “Brazil” com Z. Porque o som do “S” neste caso é um som de Z, uma reminiscência fonética que carrega consigo o fogo ancestral do nome original: terra da brasa, terra do vermelho, terra do Pau-Brasil.

Portanto, vestir vermelho pode ser — ironicamente — o ato mais brasileiro que existe, mesmo que nos doa admitir.

 

Agora, vamos falar sobre estética globalizada. É aqui que o bicho pega.

 

A suposta camisa vermelha, conforme imagens vazadas, viria embalada em um design claramente influenciado pelo streetwear norte-americano, com o icônico símbolo da linha Jordan estampado no peito. Um chute na canela da nossa cultura futebolística.

 

Nada contra Michael Jordan — um gigante, lenda e símbolo do esporte mundial —, mas convenhamos: o futebol brasileiro merece vestir sua própria história, não a dos outros.

Ao aceitar de forma acrítica essa importação estética, abrimos mão de afirmar uma cultura visual que é nossa, mestiça, única e visceral.

 

A Nike, como patrocinadora oficial, bem poderia manter o seu logo tradicional, com o “swoosh” universal, sem enfiar a goela abaixo uma estética gringa que pouco dialoga com a ginga brasileira.

Uma camisa vermelha pode, sim, representar o Brasil. Mas que ela venha com alma verde-amarela, e não com sotaque estrangeiro.

 

Queremos mudança? Claro. Mas com substância, não com superficialidade estética importada.

 

Não estamos sozinhos nesse dilema. Veja a Holanda: joga de laranja, cor que não está na bandeira do país, mas que se tornou sinônimo de sua identidade no futebol. O Japão veste azul — mesmo sendo uma ilha de bandeira vermelha e branca. A Alemanha desfila com elegância em camisas brancas, apesar do preto, vermelho e amarelo estarem em sua bandeira. E nem precisamos lembrar da Croácia e seu xadrez ousado, que virou marca registrada.

 

Logo, a cor da camisa é uma construção cultural, não uma imposição literal da bandeira.

 

Então, por que o vermelho não pode ser uma cor brasileira no futebol?

 

O Brasil já é multicolorido por excelência. Já jogou de amarelo ouro, azul celestial, branco da paz e até preto em momentos de protesto, contra o Racismo.

Aceitar o vermelho como uma nova faceta não significa apagar a história, mas ampliá-la. Abrir espaço para outros sentidos, outras vozes, outros tons.

 

“Fuja da mesmice, pensemos fora da caixa, mudar faz parte sim da tradição, história e cultura.”

 

Mas atenção: não confundamos o debate estético-cultural com o desempenho em campo. Este texto não se refere ao futebol-arte, nem ao elenco atual, nem à performance nos gramados. Isso é papo para outro editorial, em outro momento.

 

Aqui, a provocação é histórica, simbólica, cultural e quanto a política, cabe outra reflexão, pois um lado ideológico Conservador apossou da camiseta amarela da seleção como protesto e acreditam erroneamente que agora é a vez da “Esquerda” se manifestar.

 

A camisa vermelha pode (e talvez deva) provocar desconforto. Mas é nesse desconforto que se forjam as transformações significativas.

O futebol é nosso espelho. E talvez seja hora de perguntar: estamos mesmo prontos para enxergar o novo com respeito ao antigo?

 

A tradição que vale é aquela que nos permite evoluir. Se for para usar vermelho, que seja com coragem, com propósito e com orgulho.

Mas que essa decisão venha do Brasil que pensa, que cria e que se reconhece. E não apenas da cartilha de marketing de uma multinacional.

 

Por ora, seguimos nas especulações. A CBF ainda não oficializou nada.

 

REDAÇÃO


 

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Humberto Brassioli Corsi - Redator Chefe

https://linktr.ee/humbertocorsioficial

Jornalista, Empresário, Pesquisador, Coordenador Político e Escritor. "PROFISSIONAL MULTIDISCIPLINAR"

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